LITERATURA
A moça caminha alada sobre as pedras de paraty
"quando durmo sonho quando acordo corro atrás dos meus sonhos e acordado vejo a cidade dormir e dormindo a cidade sonha e nesse sonho a gente caminha sem pressa a professora professa eu escuto olhando de frente que o desenvolvimento de cada ser humano é diferente assim ela se difere de tudo que existe e me coloca no waking life da vida onde ela me aparece desenho estêncil discursando sobre steiner com sua pedagogia waldorf eu me desenvolvo por inteiro me envolvo inteiro como a energia de um terreiro nossa conversa versa eu faço versos indefinidos infinitos definindo todos os sentidos anti-horários cheguei atrasado na vida me perdi no espaço embriagado oxalufan da umbanda dando bandas pelos bares atrás de novos ares buscando conhecimento bloco de cimento a sabedoria é uma construção que se todo mundo soubesse saberia eu que aqui já sabia o sabiá assobiava eu falava mudo sobre o mundo enquanto tudo que existia professava de repente sumia a professora na profecia de que o mundo acabou a cidade acordou e não concordou com a eternidade"
a gente não quer voltar pra casa
Vitor Miranda – esse jovem poeta é ar fresco na tradução do caos metropolitano que nos cerca. E também na observação das minúcias de belezas paradoxais com as quais esbarramos despercebidamente na velocidade do cotidiano. “nada é pior do que o abraço que permanece/ mesmo sem a pessoa ficar”. Romântico na essência, traz à baila os conflitos pós-modernos, a dor e a inquietude da busca para o que ainda não tem resposta. Vitor Miranda traz um brilho que o destaca, seja em performances musicais seja em simples leitura de seus textos – por um motivo muito simples: tem a postura de quem considera, como disse Sebastião Salgado, que a humanidade é o sal da Terra, que somos nós que colocamos esse tempero no planeta e que isso já é motivo suficiente para uma postura social em que a solidariedade é inerente. “quando pensamentos voam/ pela janela afora/ livres do cárcere”. E essa busca, que passa por Leminski e Gullar, só faz sentido quando se verifica no
dia-a-dia, olho-no-olho do cidadão comum. Vitor Miranda vai adicionando sem medida a revolta, paixão, suas dores, o samba, a fotografia e os papos sem fim nos botecos do Butantã. Numa profusão de sentimentos verdadeiros que, ao tomarem corpo, chegam a um resultado saboroso. Revelam, enfim, esses novos tempos que apontam para novas fórmulas de vivência. É o que o Vitor veio nos mostrar.
Poema de amor deixado na portaria
o namoro estava por terminar
mas não o amor
por isso ele deixou na portaria
uma sacola com seuspertences
e uma última carta que dizia
meu amor por você não poderei deixar na portaria
ele não cabe numa sacola
não cabe nem mesmo neste planeta
está no ar nas estrelas
nos lugares por onde passamos
e naqueles que nunca estivemos um dia
está no sol que olhamos juntos
está no mar de Maresias
nas profundezas dos oceanos
nos anéis de Saturno
em Marte Netuno
e nos planetas ainda desconhecidos
em galáxias perdidas
mas existe um lugar onde ele cabe
onde me encaixo perfeitamente
onde existe calor quando faz frio
onde vivo contente e sorrio
onde o amor faz um laço
com nossos braços
esse lugar é seu abraço